quarta-feira, 30 de abril de 2014

Wuyeipi wuyxi ibuyxiat: Nossa terra, nossa mãe, devemos respeitá-la*

A relação dos povos indígenas com a terra é sagrada e isso não é diferente para os povos Munduruku. Encontrados nos estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso, os Munduruku se concentram às margens dos rios, por conta da navegação. Entre eles, podemos falar dos afluentes do Rio Tapajós, aonde se originou a tribo. Dados levantados pela FUNASA em 2010 revelam que os Munduruku compõem atualmente uma população de 11.620 pessoas distribuídas em 11 terras demarcadas. Segundo as histórias repassadas de geração em geração, o nome Munduruku foi dado por uma tribo rival, que vivia próximo ao Tapajós, e significa “formigas vermelhas”. Essa denominação fazia referência à forma de ataque em massa utilizado pela tribo.

Foto: Luis Fernando Sadek, 1989
Os primeiros contatos que se tem registro com a tribo datam da segunda metade do século XVIII que, já nessa época, era conhecida por seu caráter marcial. Mas, apesar do forte poder bélico, foram dominados pelos portugueses depois de um acordo de paz, no final do mesmo século, quando foram colocados em aldeamentos missionários. Contudo, essas missões não conseguiram um avanço significativo na conversão dos MunduruKu, pois estes são extremamente ligados à sua religião tradicional. Hoje, as missões têm contribuído no processo de demarcação e proteção da terra, assim como têm apoiado os Munduruku na luta por outros direitos.

Foto: Ruy Sposati/Cimi
Das 11 terras habitadas pelos Munduruku, três aguardam homologação de suas demarcações. Apesar deste número ser relativamente pequeno, as populações Munduruku sofrem hoje com os projetos de hidrelétricas, pesquisa e lavra mineral do seu subsolo, que em todos os casos incluem parte de suas terras.  Nesta última semana de abril, Mundurukus da aldeia Sai Cinza queimaram a proposta do governo federal de consulta prévia sobre a construção das hidrelétricas de São Luiz do Tapajós e Jatobá. O governo recusou a se reunir com cerca de 200 lideranças em assembleia no dia 25/04/2014, na mesma aldeia. Jairo Saw, vice-cacique geral do povo Munduruku, afirmou que: “Nós temos que ser consultados antes” (...) “E somos nós que temos que dizer como deve ser essa consulta. Precisa ter uma lei que diga como vai ser a consulta antes dela ser feita, e antes de qualquer estudo de barragem ser feito”. Nesse mesmo dia, os Munduruku resolveram marcar uma audiência, em suas terras, para dialogar com o governo. No vídeo a seguir, a carta é lida e apresentada na integra:



“Para nós tudo é sagrado. Tanto o rio, a terra, o vento, o fogo, a floresta. Tudo é sagrado. Então, quando o governo diz que vai fazer alguma coisa na nossa terra, dói no nosso coração, porque a gente faz parte de tudo isso.” Diante dessas palavras do integrante dos Munduruku Kabaiwun Kaba, ver as intransigências por parte do governo federal é revoltante. Por isso, enquanto cidadãos e ocupantes dessas terras que antes foram de tribos indígenas, devemos não só defender o direito dessas populações a mesma, como também divulgar e cobrar do governo os abusos cometidos em prol de um “desenvolvimento”.

Fontes:
http://pib.socioambiental.org/pt/povo/munduruku Acesso em: 29/04/2014
http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJA63EBC0EITEMID60FC4333F60C4EAAA1E429ED4C2D9F8DPTBRNN.htm Acesso em: 29/04/2014
http://6ccr.pgr.mpf.mp.br/sobras/clipping_noticias/29_04_2013/munduruku-indigenas-queimam-201cproposta201d-do-governo-federal-sobre-consulta-previa/?searchterm=munduruku Acesso em: 29/04/2014
http://www.cimi.org.br/site/pt-br/index.php?system=news&action=read&id=7478 Acesso em: 29/04/2014
Imagens: http://img.socioambiental.org/v/publico/munduruku/ Acesso em: 29/04/2014

*Nome dado ao Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) das Terras Indígenas Munduruku e Sai-Cinza, durante o Seminário Geral de Mobilização e Planejamento, realizado nos dias 9 e 10 de outubro de 2013, na aldeia de Sai-Cinza, município de Jacareacanga/PA.

Postado por: Vanessa Lourenço

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