terça-feira, 25 de março de 2014

As mulheres yanomami: independência e igualdade


Segundo Angela Sacch, 
As mulheres indígenas, a partir da década de 1990, começam a criar suas próprias organizações ou departamentos de mulheres dentro de organizações indígenas já estabelecidas na Amazônia Brasileira. Ao lado disso, encontros de mulheres de diferentes etnias têm acontecido nos âmbitos nacional e internacional. O que elas buscam no momento atual é a reivindicação de direitos próprios de seu gênero e o fortalecimento de antigas lutas de seus povos, o que faz com que negociem com diferentes atores no contexto Inter étnico.(SACCH, 2003, p.95) 
A natureza das reivindicações das mulheres indígenas está relacionada principalmente na necessidade de reflexão a respeito do caráter desigual que permeia a distribuição de benefícios individuais e coletivos entre homens e mulheres nas comunidades e demais coletivos indígenas. Um exemplo disso são as mulheres das comunidades Yanomami. 

  As mulheres yanomami

Mulher e criança Yanomami
Os Yanomami são um grupo de ameríndio pertencente a uma família linguística totalmente isolada das demais comunidades da América do Sul. Essa família compõe-se de quatro línguas (Sanoma, Yanomami, Ninan, Ajarani) e se espalha pela amazônia brasileira e venezuelana. Estima-se que a população Yanomami conta com cerca de 8.000 pessoas no Brasil, sendo 5.500 delas no estado de Roraima. 
 O cotidiano dessas comunidades não diverge muito em relação a outros grupos ameríndios. É o que acontece, por exemplo, no caso das relações de gênero. Sabe-se que as tarefas realizadas pela comunidade são distribuídas por sexo. Aos homens, cabe basicamente o exercício da caça. As mulheres (que além da pesca, incluída também nas tarefas masculinas), realizam o cultivo de diversos gêneros agrícolas que representam cerca de 80% da dieta do grupo. Além disso, elas também coletam outros tipos de alimentos disponíveis em seu habitat tais como o mel, larvas de insetos, sementes e frutos da floresta. Percebe-se que existe de fato uma hierarquia em todas as atividades realizadas pelo grupo, desde as tarefas cotidianas até os costumes menos recorrentes como práticas rituais específicas. 
 Não obstante a hierarquia e os constantes conflitos pela terra vivenciados pelas comunidades, os Yanomami, mais especificamente as mulheres, sofrem outros tipos de coação tais como os abusos sexuais. Trata-se de uma prática decorrente do processo de aculturação vivenciado pelas comunidades, ao passo que muitas mulheres são coagidas por membros do exército brasileiro, alocados em áreas próximas às comunidades. 
 Outros problemas decorrentes da aculturação que recaem de maneira mais incisiva sobre as mulheres tratam-se do processo de sedentarização, a ingestão de alimentos industrializados e o alcoolismo. Além disso, convive-se diariamente com problemas de saúde como a desnutrição e a malária. Todos esses fatores representam assim uma sobrecarga no cotidiano das mulheres Yanomami, que por exemplo, despendem mais tempo com cuidados aos enfermos, etc. 
 Por outro lado, ocorre também o crescimento de espaços de emancipação e transformação do papel da mulher dentro desses grupos. Trata-se da luta pelo acesso à necessidades básicas como a autonomia econômica, a saúde e a educação. Nesse sentido, percebe-se que a hierarquia tradicional vai se desfazendo mediante a ação de determinados membros do grupo, ao passo que muitos desses temas são combatidos fora do espaço da aldeia, e não precisam necessariamente da representação masculina, religiosa, etc. Contudo, percebe-se que esse ainda é um processo bem lento e que as mulheres aos poucos vão aumentando sua área de atuação dentro e fora de suas comunidades.


Diante disso, é muito comum defender a autonomia das mulheres, principalmente por meio do trabalho, emprego formal ou atividades que geram algum tipo de renda. Isso ocorre porque na nossa sociedade a liberdade da mulher está muito ligada à capacidade que ela tem de se sustentar financeiramente. Mas quando o assunto é mulher indígena, o debate não pode se restringir nem a nossa cultura, nem a cultura ameríndia. Logo, é necessário buscar o diálogo junto a estas novas “atrizes sociais”, abrindo mão das certezas sobre as relações de gênero da sociedade ocidental, em função da construção de novos paradigmas. 

 Obviamente estamos vivendo uma geração de responsabilidades, atual condição de dinamicidade do movimento, também responsável pela notável dificuldade de algumas esferas em articular e negociar as pautas de interesse indígenas, que se apropria da falta de ferramentas técnicas para abordagem dos temas desenvolvidos pelos órgãos e políticas públicas. Ainda sob essas perspectivas, as mulheres indígenas procuram entenderem das leis para se resguardarem de qualquer tipo de agressão física, emocional ou psicológica apoiando-se na FUNAI e outras secretarias avaliando em que circunstâncias específicas determinadas leis podem ser úteis e acionadas por elas. Contudo, reconhecem que estão diante de um grande desafio: reconstruir os discursos que justificam certas práticas enraizadas em valores tradicionais da cultura.


Para saber mais sobre os Yanomami, segue abaixo um vídeo produzido pela HUTUKARA, que fala um pouco dos 20 anos de homologação das terras indígenas dos Yanomami:



 Fontes: 
- A questão de gênero e o trabalho indigenista da Secoya. In: Secoya: Serviço de cooperação com o povo Yanomami. Disponível em: Acesso em: 20 mar. 2014 
- CIRINO, Carlos A. M. A mulher no universo Yanomami. In: Textos & Debates, Boa Vista, v.1, n.2, p. 41-45, 1996. Disponível em: Acesso em: 20 mar. 2014 
- O Povo Yanomami. In: Secoya: Serviço de cooperação com o povo Yanomami. Disponível em: Acesso em: 20 mar. 2014 - Os Yanomami. In: Survival. Disponível em: Acesso em: 20 mar. 2014 
- PEREIR, Luis Fernando. As corajosas mulheres Yanomami. In: CCPY: Comissão pró Yanomami. Mar, 2002. Disponível em: Acesso em: 20 mar. 2014 
- SACCH, Ângela. Mulheres indígenas e participação política: a discussão de gênero nas organizações de mulheres indígenas.In: Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 7, v. 14, n. 1 e 2, p. 95-110, 2003. Disponível em: Acesso em: 17 mar. 2014. 

Postado por: Vanessa Lourenço; Rosa Helena Vargas Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário