sábado, 29 de março de 2014


Crianças Indígenas

Assis da Costa Oliveira

Crianças indígenas são indígenas crianças,
São feitas crianças ao serem indígenas.
Mundos situados nas entrelinhas da infância,
Corpos nutridos por oceanos culturais.

Pessoa descolorida das misérias coloniais,
É teu o direito de não ter direitos?
Revelas o inapreensível das injustiças mais óbvias
Na peleja de teu povo pelo respeito às diferenças.

Indígena criança que vive entre humanos e espíritos
Não sabes que o Direito não cresceu os teus direitos,
Porque fostes na pátria o último a ser parido,
E quando o berro foi ouvido a Justiça estava surda.

Mas eis que a insistência quebrou a mordaça
E viestes à tona para inverter nossas lógicas.
Moveram algumas palhas na cúpula do poder
Para te oferecer novíssimos direitos.

Porém és indígena antes de ser criança
Para o bem dos teus direitos, para o mal dos preconceitos.
As nobres autoridades logo arranjaram nobres palavras podres
Que foram converter as armas em armadilhas

E nos derradeiros atos da casa das leis
Sepultaram o defunto que nem havia nascido.
E agora, será que voltamos ao tempo das ausências naturalizadas?
Será que ficou tudo como sendo mais do mesmo?

Engano pensar que a calmaria é clima de derrota
Quando o olho do furacão ainda está sob nossas cabeças.
Indígenas crianças teus direitos estão vivos,
Alguns nas leis dos brancos, vários nos dos teus coletivos.

Então nossa tarefa é recriar a infância
Ao conhecer as realidades diversas.
Então nossa tarefa é recriar os direitos
Na cópula intercultural dos direitos humanos.

E assim levar a sério o imperativo que diz
Que se os indígenas, agora, rompem a porta
Da infância, é preciso avançar para a inclusão
De todas as diversidades do “ser criança”.

Postado por: Kelly Cristina Silva

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